domingo, 2 de agosto de 2009

O dia do curinga



Não me importo em emprestar as minhas coisas, mas me incomoda bastante o fato de algumas delas não serem devolvidas. Um dos meus livros favoritos, O dia do curinga, já foi emprestado a muitos amigos, e sempre retornou. É um livro que gosto de reler todos os anos, mas que infelizmente esse ano ainda não consegui, porque a atual detentora do meu exemplar, apesar de já ter terminado a leitura, não o devolveu.

Pra diminuir um pouco a minha frustração, sai por ai catando alguns trechos do livro, e resolvi dividí-los com vocês:

"Riqueza, prestígio, tudo pode ser perdido, a felicidade em seu coração pode ser diminuída, mas estará sempre lá enquanto você viver, para torná-lo feliz de novo. Sempre que estiver sozinho ou triste, tente ir para o sótão num dia lindo e olhar para fora, não para as casas e os telhados, mas para o céu. Enquanto puder olhar sem medo para o céu, saberá que é puro por dentro, e encontrará a felicidade outra vez."

"'O curinga é unica carta do baralho que pode ser retirada sem afetar o jogo. Afinal, sua presença era apenas caos.''

"Um curinga é um pequeno bobo da corte; uma figura diferente de todas as outras. Não é nem de paus, nem de ouros, nem de copas e nem de espadas. Não é oito, nem nove, nem rei e nem valete. É um caso a parte; uma carta sem relação com as outras. Ele está no mesmo monte das outras cartas, mas aquele não é seu lugar. Por isso pode ser separado do monte sem que ninguém sinta falta dele."

"(...)
Quando ele acenou para o garçom e pediu a conta, perguntei:
- Pai, você acredita em Deus?
Ele se surpreendeu com minha pergunta.
- Você não acha um pouco pesado falar sobre essas coisas a essa hora do dia? - retrucou.
(...)
- Se realmente existe um Deus - continuei -, então ele adora ficar brincando de esconde-esconde com suas criações.
Meu pai riu da minha observação, mas eu sabia que concordava comigo.
- Talvez ele tenha tido um choque quando viu o que tinha criado - disse ele. - E então saiu rapidinho de cena. Você sabe... é difícil dizer quem levou o susto maior, se foi Adão ou o Mestre. De fato, acho que um ato de criação dessa magnitude provoca um susto tão grande tanto numa parte como na outra. Mas acho que pelo menos poderia ter assinado rapidamente sua obra-prima.
- Assinado?
- Sim. Ele poderia ter gravado seu nome nas rochas de uma montanha, por exemplo.
- Quer dizer que você acredita em Deus?
- Não disse isso. Pode muito bem ser que ele esteja sentado em seu trono lá no céu, rindo de nós porque não acreditamos nele.
'Exatamente!' pensei. Meu pai já tinha feito um comentário parecido com esse lá em Hamburgo
E então ele prosseguiu:
- Pois mesmo que ele não tenha deixado nenhum cartão de visita, pelo menos deixou o mundo. Acho que isso já é o bastante, você não acha? - Ficou calado por um tempo e depois disse: - Certa vez um cosmonauta russo e um neurocirurgião, também russo, discutiam sobre o cristianismo. O neurocirurgião era cristão, o cosmonauta não era. 'Já viajei muitas vezes para o espaço sideral' gabou-se o cosmonauta, 'mas nunca vi nenhum anjo.' O neurocirurgião primeiro ficou olhando para ele; depois disse: 'Eu já operei muitos cérebros inteligentes, mas nunca vi um pensamento'.
(...)"

“… ela disse ter lido na Bíblia que Deus está lá no céu e ri das pessoas que não acreditam nele.”

“… se há ums Deus, que nos criou, então de certa forma somos artificiais aos seus olhos. Falamos besteiras, discutimos e brigamos entre nós. Depois nos separamos e morremos. Mas nenhum de nós se pergunta de onde veio. Agenta simplesmente se contenta em estar por aqui, dividindo com os outros esse espaço.”

“Os anjos são mais inteligentes do que os homens. E eles são tão inteligentes quanto Deus, mas entendem tudo o que nós, humanos, somos capazes de entender, só que sem terem de ficar pensando sobre as coisas.”

“Se nosso cérebro fosse tão simples a ponto de podermos entendê-lo…, seríamos tão tolos que continuaríamos sem entendê-lo.”

2 comentários:

Jou Jou Balangandã disse...

Sim, a primavera chegou mais cedo por aqui!
O visual ficou mais light ... reflete melhor a alma da escritora!

Amanda Raylla disse...

"_Você acredita que os deuses gregos existiram Hans-Thomas?
_ Não estou bem certo - respondi. - Mas acho que de alguma forma eles estiveram aqui na Terra enquanto as pessoas ainda acreditavam neles. Acho que a gente vê aquilo em que acredita. Por isso é que, enquanto as pessoas não duvidaram da existência deles, eles não envelheceram ou ficaram gastos e puídos."

Creio que essa é uma parte incrívelmente solene e verdadeira, que não poderia faltar!
Estou lendo esse livro e só falta o naipe de Copas. Espero ansiosa pelo fim e muito receosa também. Já estou até sentindo aquele vazio depois que terminamos de ler uma boa história e temos de deixá-la após o fim.