terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O perigo da viagem mora nas malas


"Elas podem nos impedir de apreciar a beleza que nos espera...
Experimento na carne a verdade das palavras, mas não aprendo.
Minhas malas são sempre superiores às minhas necessidades.
É por isso que minhas partidas e chegadas são mais penosas do que deveriam.
Ando pensando sobre as malas que levamos...
Elas são expressões dos nossos medos.
Elas representam nossas inseguranças...
Olho para o viajante com suas imensas bagagens e fico curioso para saber o que há dentro das estruturas etiquetadas.
Tudo o que ele leva está diretamente ligado ao medo de necessitar.
Roupas diversas: de frio, de calor – o clima pode mudar a qualquer momento! – remédios, segredos, livros, chinelos, guarda-chuva – e se chover? –, cremes, sabonetes, ferro elétrico – isso mesmo! – Microondas? – Comunique-me, por favor, se alguém já ousou levar.
O fato é que elas representam nossas inseguranças.
Digo por mim.
Sempre que saio de casa levo comigo a pretensão de deslocar o meu mundo.
Tenho medo do que vou enfrentar..
Quero fazer caber no pequeno espaço a totalidade dos meus significados.
As justificativas são racionais.
Correspondem às regras do bom senso, preocupações naturais para quem não gosta de viver privações.
Nós nos justificamos.
Posso precisar disso, posso precisar daquilo...
Olho ao meu redor e descubro que as coisas que quero levar não podem ser levadas.
Excedem aos tamanhos permitidos.
Já imaginou chegar ao aeroporto carregando o colchão para ser despachado?
As perguntas são muitas...
E se eu tiver vontade de ouvir aquela música?
E o filme que costumo ver de vez em quando, como se fosse a primeira vez?
Desisto..
Jogo o que posso no espaço delimitado para minha partida e vou.
Vez em quando me recordo de alguma coisa esquecida, ou então, inevitavelmente concluo que mais da metade do que levei não me serviu pra nada.
É nessa hora que descubro que partir é experiência inevitável de sofrer ausências.
E nisso mora o encanto da viagem.
Viajar é descobrir o mundo que não temos.
É o tempo de sofrer a ausência que nos ajuda a mensurar o valor do mundo que nos pertence.
E então descobrimos o motivo que levou o poeta cantar: “Coisa que gosto é poder partir sem ter planos. Melhor ainda é poder voltar quando quero”.
Ele tinha razão.
A partida nos abre os olhos para o que deixamos.
A distância nos permite mensurar os espaços deixados.
Por isso, partidas e chegadas são instrumentos que nos indicam quem somos, o que amamos e o que é essencial para que a gente continue sendo.
Ao ver o mundo que não é meu, eu me reencontro com desejo de amar ainda mais o meu território. É consequência natural que faz o coração querer voltar ao ponto inicial, ao lugar onde tudo começou.
É como se a voz identificasse a raiz do grito, o elemento primeiro.
Vida e viagens seguem as mesmas regras.
Os excessos nos pesam e nos retiram a vontade de viver.
Por isso é tão necessário partir.
Sair na direção das realidades que nos ausentam.
Lugares e pessoas que não pertencem ao contexto de nossas lamúrias.
Hospitais, asilos, internatos....
Ver o sofrimento de perto, tocar na ferida que não dói na nossa carne, mas que de alguma maneira pode nos humanizar.
Andar na direção do outro é também fazer uma viagem.
Mas não leve muita coisa.
Não tenha medo das ausências que sentirá.
Ao adentrar o território alheio, quem sabe assim os seus olhos se abram para enxergar de um jeito novo o território que é seu.
Não leve os seus pesos.
Eles não lhe permitirão encontrar o outro.
Viaje leve, leve, bem leve.
Mas se leve.
Em direção a um tempo de cura, de amor, de paz, de luz!"
Autor desconhecido

5 comentários:

Older disse...

KKK, Jou Jou, até me vi assim, menos no lance do microondas, é claro. Toda vez que viajo, até para perto, para passar só um final de semana, me vejo colocando um monte de coisas que nem sempre vou usar, mas coloco assim mesmo. E lá vou eu carregando peso pela vida.
Bjs e boa semana.

Wanderley Elian Lima disse...

Olá Jou Jou
Excelente texto, vou prestar mais atençao às minhas malas, sempre levo muita coisas e volta com a maioria sem ter usado. Toda viagem é a mesma coisas não consigo ser prático.
Beijos

Marcos Rittner - Author disse...

Travel light, sweetie. Always.
Se chover, compre uma umbrella.

Anônimo disse...

até que não faltou água não... pelo menos nos dias que eu estava lá ^^
Tive sorte então ;)

Sandra Gonçalves disse...

Menina, perfeito, parece que foi escrito pra mim.
Eu acho que tenho que levar meu quarto na mala. Uma loucura.
Se vou viajar daqui uma semana, já começo a pensar o que vou levar, o que vou precisar, mas e se eu precisar disso , e se precisar daquilo.
Mas e se esfriar , e se fizer calor. e se eu for sair, se for a uma festa de gala, mas e se for a um barzinho.
No final das contas , malas e malas. Um horror!
Amei teu post,
Em vez de pensar na beleza da viagem...
Bjos querida e uma linda noite e belos dias para você!