sábado, 3 de abril de 2010

Clarice e Bern

Que sou fã da Clarice, quem acompanha o Jou Jou já sabe. Esta manhã encontrei uma carta escrita por ela na cidade de Bern. Me lembrei que certa vez estive em Bern durante o spring break, a famosa semana de folga que dá início à primavera na Europa. A cidade (fria, como tudo na Suiça), tem lá o seu charme, com o Banco Central Suiço, relógios e leões por toda parte, tulipas nas ruas e uma catedral com um belo mirante para a cidade (foto). Mas fiquei imaginando o efeito da cidade sobre a escritora ... sem dúvida, o cenário era inspirador para reflexões sobre o ser humando. Mas vamos à carta:

1947, Berna - Suíça

“Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro... Há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu... Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força. Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você, sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver. Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma

8 comentários:

Cris Teles disse...

Também sua super fã da Clarice. Essa carta em especial é lindíssima, (eu havia lido apenas algumas frases soltas dela, não a conhecia na íntegra) realmente o cenário era muitooo inspirador..Deu até vontade de conhecer Bern. :)
Beijos!!

Evandro Varella disse...

Recebi sua mensagem!!! Muito obrigado pela lembrança, uma ótima Páscoa prá você e sua família.
O post , como sempre está 10!
Beijous!

Jou Jou Balangandã disse...

Queridos,
é tão bom fazer um post, virar as costas 2 minutinhos e chegar aqui e já ver comentários...obrigada!!!!
Ótima páscoa pra vcs tb!!!

Anônimo disse...

Clarice dispensa comentários. Ela é infinitamente melhor que a maioria das escritoras, tamanha a sua profundidade nas palavras e a viagem que nos proporciona sempre.

Adorei seu post.

Beijos! Boa Páscoa!

Denise disse...

Caleidoscopia que era Clarice sabia das coisas.
e você também sem duvida
pq copiar alguem qdo podemos todos os dias copiar a nós mesmas.

bem querer e carinho

Denise disse...

Resignar-se?

JAMAIS!

Sandra Gonçalves disse...

Clarice é maravilhosa
Assim como tudo que ela escreve.
Bjos achocolatados e parabens pelo bom gosto viu?

Kika disse...

Oiii... mt lindo seu blog. Parabéns!!!